O que fazer quando um parente ou amigo pede dinheiro?

Veja dicas de consultores para não ter prejuízos com empréstimos e pedidos para ser fiador de familiares e conhecidos

Você estava tomando sua cerveja tranquilamente no churrasco de família quando seu cunhado apareceu e, depois de uma conversa bastante estranha, pediu dinheiro emprestado para pagar algumas contas. Ou estava fazendo compras no shopping quando sua melhor amiga, alegando que aquela promoção de uma grife famosa é imperdível, pediu seu cartão de crédito para comprar mais um par de sapatos.
Se você (ainda) não passou por uma situação semelhante, com certeza conhece alguém que já tenha ouvido esse tipo de pedido de parentes e amigos próximos. Mas, o que fazer quando um familiar ou conhecido pede dinheiro emprestado, quer fazer compras com seu cartão de crédito, precisa de um fiador ou quer usar seu nome em um financiamento?
A primeira recomendação de consultores especializados em finanças pessoais é uma só: diga não. “Se o valor for pequeno e você tiver fôlego financeiro e disposição para tanto, simplesmente dê o dinheiro sem esperar retorno. Mas, se a quantia for significativa, negue o pedido sem culpa”, afirma Mauro Calil, educador financeiro e autor do livro “A Receita do Bolo”.
Ainda que num primeiro momento pareça crueldade negar ajuda, a decisão de se envolver nas dívidas de terceiros pode desestabilizar sua vida financeira e comprometer seu orçamento. E aí, você tem grandes chances de fazer parte do imenso grupo de brasileiros endividados. Mas, como fugir dessa saia justa?
Diretora da Fharos Consultoria, Dora Ramos afirma que o ideal, nessas situações, é sair pela tangente. “Ao ouvir os apelos emocionados de quem precisa muito de dinheiro, diga que precisa pensar antes de dar a resposta. Jamais se comprometa no calor da emoção. Não é durante uma festa ou uma conversa informal que você vai avaliar a situação com clareza”, afirma.
Marido avarento, esposa bruxa
Para quem é casado, existe ainda outra boa desculpa para fugir desses pedidos. Não importa se o dinheiro emprestado é do marido ou da esposa, o fato é que existe um vínculo jurídico unindo o casal e, nesse caso, qualquer perda pode abalar a situação financeira de ambos.
“Se você não consegue dizer não sozinho, uma alternativa é colocar a “culpa” em seu cônjuge, alegando que não quer ter problemas em casa”, diz o professor do curso de Administração do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Wilson Pires. Em geral, essa justificativa costuma funcionar, embora a fama de bruxa ou de miserável acabe por recair sobre quem “impediu” a transação.
Mas, se nem mesmo essa desculpa funcionar, vale apostar em uma conversa franca e direta. Afinal, trata-se do seu dinheiro, ressaltam os consultores. O funcionário público Márcio Branco, que já emprestou dinheiro para amigos em três ocasiões diferentes, não se sentiu constrangido ao recusar outros pedidos semelhantes. “Se a pessoa toma a liberdade de falar com você sobre o assunto, ela tem que estar preparada para ouvir a resposta, seja positiva ou não”.
Branco recebeu, sem dificuldades, todos os valores que emprestou. Mas, sabe que não existe maneira mais fácil de perder um amigo ou entrar em conflito com um parente que emprestar dinheiro. “O risco de levar um prejuízo é grande”.
Pagamento em dia é exceção
A secretária Vanessa Gotardo sabe bem o que é isso. Em 2004, ela emprestou R$ 600 para uma amiga de muitos anos que, aos prantos, lhe pediu dinheiro depois de ter sofrido um assalto. O pagamento, conta Vanessa, seria feito tão logo ela equilibrasse as contas. Mas, o tempo foi passando sem que a amiga fizesse qualquer referência ao empréstimo. Um dia, se encontrarem por acaso. “Elogiei os sapatos novos dela, sem sequer pensar no dinheiro que ela me devia. Foi um constrangimento. Ela ficou muito brava e se defendeu, dizendo que precisava comprar sapatos assim como qualquer outra pessoa”.
Depois desse episódio, as duas se afastaram de vez e Vanessa perdeu não apenas a amiga como também os R$ 600. “O que mais me incomodava era o fato de não receber nenhuma justificativa dela sobre o não pagamento. Afinal, o fato de ter o dinheiro disponível para o empréstimo não significava que esses recursos não fariam falta para mim”.
São casos como o de Vanessa que levam os especialistas em finanças pessoais a aconselharem que ninguém entre em uma situação semelhante. Mas, se negar o pedido é uma alternativa fora de cogitação por motivos pessoais, vale a pena tomar alguns cuidados.
Pedir garantias é o primeiro passo para reduzir as chances de tomar prejuízos nos negócios com parentes e amigos. Se você aceitou atender a um pedido, o outro lado também tem que estar disposto a cooperar, afirmam os consultores. “Existe uma cultura no Brasil de que, se você pede uma garantia em operações desse tipo, está duvidando da palavra e do caráter da outra pessoa. O apelo emocional é muito grande”, diz Calil.
Nesse caso, o recomendado é ignorar o tom dramático do pedido e insistir no acerto de uma garantia de pagamento, que pode ser um cheque, um contrato de confissão de dívida, uma promissória ou até mesmo um bem. Via de regra, as pessoas que não aceitam garantias são justamente as que vão dar problemas, alerta o educador. “Quem não quer se comprometer com o pagamento está pré-disposto a dar o calote”.
Faça como os bancos
Outra dica é: faça a análise de crédito da pessoa da mesma maneira que os bancos e financeiras fazem. Se o histórico não é bom, não empreste. Se o indivíduo deve a todo mundo, não é a você que ele vai pagar.
Por fim, tome muito cuidado com as aparências. Nem sempre quem parece estar apenas passando por um mau momento merece crédito. Calil conta que conheceu o caso de um executivo que todos os anos pedia dinheiro emprestado a um amigo para pagar o IPVA de seus carros recém-comprados, entre eles um Pajero e um Fusion. “`É o caso típico de pessoas mal-educadas financeiramente, que confundem crédito com renda e vivem acima de suas posses, aparentando algo que não são. E aí, você é o bobo que financia os sonhos de terceiros”.


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